quinta-feira, 25 de junho de 2009

Educação a distância: limites e possibilidades

Por Sylvia Vergara *

1. Por que educação a distância?
Educação a distância é um conceito muito em voga atualmente. Primeiro, porque vivemos a era da informação, e saber trabalhar com ela é fundamental para poder gerar conhecimento e adquirir vantagem competitiva. Segundo, porque para usufruir de tal vantagem é preciso ter um grande contingente de pessoas capazes de gerar conhecimento e, nesse aspecto, a educação formal é um meio privilegiado. Terceiro, porque as tradicionais formas presenciais de educação, sozinhas, não dão conta da empreitada que hoje se coloca para países, estados, municípios, empresas, organizações em geral.

2. O que é educação a distância?
Mas, afinal, o que é educação a distância? O decreto n. 2.494/98 a define como "uma forma de ensino que possibilita a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de informação, utilizados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de comunicação".

Um olhar na história nos informará que o conceito não é novo. Muitos, certamente, se lembrarão do "ensino por correspondência", bastante utilizado até os anos 60. Resolvia muitas questões de aprendizado, sobretudo o técnico, mas a interação com os professores era pouca ou nenhuma durante o processo, às vezes limitando-se à avaliação final da aprendizagem, sem um grande feedback.

No fim da década de 60, outros meios começaram a ser utilizados: rádio, televisão, audiocassetes, videocassetes, telefone. Nos anos 70, a informática entrou no processo, dando-lhe mais agilidade e permitindo maior interação entre aluno e professor. Hoje, não são poucos os recursos que a telemática põe à disposição de quem se propõe à auto-aprendizagem. A Internet nos diz que o céu é o limite.

3. O uso da educação a distância por empresas
No rastro das possibilidades da telemática, várias empresas estão implementando cursos de treinamento remoto, mais adequados a tarefas essencialmente técnicas ou operacionais, e cursos de educação continuada, adequados quando a proposta é de desenvolvimento do aluno, o que pressupõe pensamentos mais abstratos e sua articulação com a praticidade do cotidiano. Com as empresas Embratel, Petrobras, BR Distribuidora e Xerox, não está sendo diferente.

Em 1998, as quatro firmaram uma parceria. Desejavam promover educação via Web. Era sua primeira iniciativa como parceiras, embora cada uma já tivesse experiências individuais. Decidiram por promover um curso de Gestão de Pessoas, destinado a gestores atuais e potenciais. As empresas tinham, então, um duplo desafio: estabelecer a parceria e promover um curso que, tradicionalmente, tem sido feito de modo presencial. Na empreitada, contaram com o auxílio dos Cursos de Informática e de Administração da PUC-Rio, bem como da empresa MHW.

Textos, chats, fóruns, imagens animadas, tudo foi possível. O conteúdo do curso ficou por minha conta, sendo, portanto, minha propriedade intelectual. Acrescentei mais um desafio à parceria estabelecida pelas empresas mencionadas: escolhi temas como as características do mundo contemporâneo, a trama tecida por tais elementos e seu impacto no ambiente de negócios, processos motivacionais, liderança requerida nesses novos tempos, poder nas organizações e trabalho em equipe.

Com eles, lidei privilegiando abordagem holística, aquela capaz de estabelecer interconexões de diferentes áreas do conhecimento e dessas com o cotidiano da vida. Apresentei teorias e conceitos, contei histórias do dia-a-dia, narrei lendas, utilizei o recurso de metáforas e, em metodologia interativa, convidei o aluno a fazer os exercícios que ia apresentando. O estilo descontraído do web training, que escolhi, o torna uma conversa com o aluno. A tônica é o convite à reflexão e à ação.

4. O exemplo da Xerox revela possibilidades e limites
No caso Xerox do Brasil, aqui destacado como exemplo, mais de 100 pessoas já fizeram o curso. Está sendo um sucesso que aponta para uma das maiores possibilidades da educação a distância: atingir um grande número de funcionários, romper fronteiras geográficas, respeitar o ritmo de aprendizagem de cada aluno e, ao mesmo tempo, reduzir custos. Como no hipertexto, pode utilizar pessoas que funcionem como multiplicadores, abrindo novos espaços. Pode, também, estabelecer fecundas parcerias entre universidade e empresa, cada uma disponibilizando para a outra, seus pontos fortes.

Um dos limites, não uma restrição, é que a educação a distância exige dos alunos disciplina intelectual e uso responsável da liberdade no uso do tempo. Exige, também, que alguém se responsabilize por tornar amigável e viva a relação entre aluno e software -, bem como entre alunos - e, ao mesmo tempo, responsabilize-se por cobrar resultados; exige tutoria a distância.

No caso da Xerox, a responsável pelo curso, Dayse Monteiro, tem feito isso com maestria. Também ela conversa todo o tempo com os alunos, aquecendo-lhes a auto-estima e a motivação. Um sucesso! Na escola virtual da Xerox, tem até formatura. Da última participei, num chat descontraído com direito a discurso e tudo no final. Um must!

5. Para concluir
À guisa de conclusão, vale aqui fazer duas ressalvas. A primeira é que a educação a distância não decreta a ruína da educação presencial. Ela apenas representa mais um meio do qual se dispõe para promover educação. A segunda é que tecnologia é meio. Temos de admitir que é um meio que vem mudando lógicas de pensamento e formas de vida, mas é um meio. Nesse sentido, convém sempre ter em mente a que fim se destina.

Utilizando uma metáfora, posso dizer que tecnologia é um dedo - e precisamos estar atentos para onde esse dedo aponta. Espero, sinceramente, que ele aponte para fins éticos, dignos, que garantam a integridade pessoal e coletiva, tornando o mundo bem melhor e, no caso brasileiro, especificamente, uma nação mais justa.

* Sylvia Constant Vergara é Doutora em Educação, Mestre em Administração, professora da FGV-Rio e autora dos livros Gestão de Pessoas e Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração.

Disponível em: http://www.timaster.com.br/revista/artigos/main_artigo.asp?codigo=85&pag=2 Acesso em: 25/06/2009

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